quinta-feira, 22 de maio de 2014

Resenha - Ora bolas


De todos os poetas que eu conheço, considero Mario Quintana o melhor. Não somente por suas poesias - que não são "somente" poesias -, mas por todas as histórias que já ouvi dele como pessoa. "Como se poeta não fosse pessoa", ele provavelmente me diria, se estivesse vivo. Oras Bolas: O humor de Mario Quintana (L&PM, 2011, 146 p.) é um livrinho pequeno, escrito, compilado e adaptado por Juarez Fonseca. Foi um livro que ficou entre os mais vendidos de não-ficção, em 1994, ficando atrás somente de Chatô, o rei do Brasil (de Fernando Morais).

As histórias são contadas como crônicas de alguém que conheceu bem de perto o humor de Quintana. Dependendo do dia, acordava com o humor áspero; em outros já vestia o humor poético. Mas sempre sem papas na língua. Como disse Juarez, seus encontros - não somente com políticos, pelo visto - eram hilariantes ou, dependendo do ponto de vista, constrangedores.

"Inflação  (p. 53)
Época do governo José Ribamar Sarney, inflação de 80% ao mês – para começar. Come seu pastel com cafezinho no balcão de uma lancheria da Rua da Praia, sentado em um desses bancos altos e desconfortáveis. Como todo mundo faz, tem as pernas trançadas nas pernas do banco. Na hora de pagar, ao tirar o dinheiro do bolso do paletó, uma nota cai no chão. Lá de cima o poeta a olha desconsolado e isso é o bastante para que um rapaz, sentado na mesa próxima, se abaixe, pegando a nota e alcançando-a a Quintana, que agradece:
– Muito obrigado! No tempo que eu levaria para desenroscar as pernas e descer deste
banco, o dinheiro já teria perdido metade do valor..."

Vejo que seus pensamentos eram tão filosóficos, que beiravam o infantil. Perguntas bobas, comentários tolos, que chegam à pureza da criança. Assim como demonstra em suas poesias, Quintana gostava do cotidiano, gostava do simples, e não era o maior adorador da fama. 

“'Sou a falta de assunto predileta das professoras de Português da Grande Porto Alegre', divertia-se." (p. 65).

Encontrei esta incrível - e rara - entrevista exibida à TV Educativa, nos anos 90. Mario afirma: "A poesia para mim é um instrumento de reconhecimento do meu mundo, do mundo dos outros, e talvez dos outros mundos". Estou ainda mais encantada com este senhorzinho, que no dia cinco de maio completou vinte anos de falecimento.

Título: Ora bolas: O humor de Mario Quintana
Autor: Juarez Fonseca
Editora: L&PM
Páginas: 146


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