quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Resenha dupla - Orgias + Sexo na cabeça

Olá! Sempre quando leio Verissimo, as coisas parecem melhorar para mim. Além de serem textos bem curtinhos, suas crônicas possuem elevada carga de humor. E isso sempre é bom, principalmente nesta nossa vida corrida e chata. Apesar de ser bem complicado, para mim, falar sobre contos e crônicas - o que é cômico, pois é o que gosto de escrever -, tentarei explicar um pouco dos dois últimos livros que li do autor.


Sexo na cabeça (Objetiva, 2002, 148 p.) é uma obra que reúne cerca de 45 crônicas com um dos assuntos que - mesmo depois de 25 anos - ainda fico sem graça perto de meus pais. Ou melhor: fico sem graça quando está passando aquele filme tranquilo, e quando papai e mamãe aparecem na sala, está lá, a maior cena de sexo do cinema, parecendo que eu sou a pervertida da família! haha Veríssimo percorre o tema em questão pelos vários pontos de vista: carnal, espiritual, biológico e até cultural, eu diria. O ponto alto deste livro foi a linguagem bem familiar. É como se sentássemos numa roda de amigos e ali surgisse o assunto Sexo. E Luis, ou Luisinho, dependendo do grau de intimidade da roda de amigos, contaria-nos uma de suas peripécias, ou uma das histórias hilárias que aconteceu com o amigo do pai do colega de serviço do primo dele, sabe?! Ou ainda assumiria o papel do intelectual Kid Cultura, e de seus lábios sairiam as mais fantásticas histórias de como tudo era lá no começo do mundo. Ou ainda, ou ainda, o papel daquele professor supimpa que discorre o tema sexo em sala de aula, filosofando sobre sua origem segundo a visão religiosa, mas com pitadas de Um sábado qualquer.
A minha tese de que o homem descende do macaco, mas a mulher não, é apoiada em evidências científicas, não só no fato de que somos mais feios e cabeludos. (Primatas, p. 47)
Já Orgias (Objetiva, 2005, 132 p.) reúne 34 crônicas que descrevem muito bem como é a vida da raça humana (principalmente dos brasileiros): tão desorganizada e ao mesmo tempo tão prazerosa. Afinal, o que seriam os finais das festas de aniversários infantis, sem aquelas crianças todas perdidas no meio de brigadeiros e balões?! Ou aquele pagode da Djalmira sem as conversas aleatórias, variando a última morte da turma, com a famosa feijoada com costelinha de porco, paio, rabinho de porco... Veríssimo mostra com seu singular humor de sempre, que para ser brasileiro, é quase lei ter uma dose de orgia... Ops! Desorganização!
Ela era o meu tu, eu era o tu dela. Juntos, inauguramos vários verbos que estão em uso até hoje. E eu a chamei de Altimanara, mas Deus vetou e lhe deu outro nome. E quando ela perguntou como era o meu nome, respondi "Mastortônio", mas Deus limpou a garganta, inventando o trovão, e disse que não era não. Ficou Adão e Eva (eu Adão, ela Eva) aos olhos do Senhor e na História oficial mas em segredo, isto pouca gente sabe, nos chamávamos de Titinha e Totonho. E foi ela que disse "Totonho, quero que tu me conheças mais a fundo". E eu: "No sentido bíblico?" E ela: "Existe outro?" E inauguramos outro verbo. (A primeira pessoa, p. 109).
Título: Sexo na cabeça
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Páginas: 148 p.
 
Título: Orgias
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Páginas: 132 p.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O poder do diálogo [resenha]


Ao pegar um livro, muitas vezes, pode nos parecer clichê nos perguntar o motivo da escolha e sempre nos vem à mente: gostei da capa, ouvi falar muito bem ou o autor é o badalado do momento.

Acredito fortemente que a influência para a escolha de um título seja o convívio com outras pessoas, com os mesmos gostos ou não. É nesse sentido que posso me referir, mesmo não me aprofundando no assunto, à literatura religiosa que vem conquistando estantes ultimamente.

Em uma das conversas de trabalho, eis que surge uma pauta interessante sobre literatura: o tema religioso dentro do texto literário pode ser polêmico? Todos nós sabemos que a literatura, na criação de mundos ficcionais, consegue nos levar a estados não imaginados pela racionalidade humana... e a religião? que papel ela consegue fazer neste percurso?

São essas as questões que me consumiram na leitura de O discípulo da madrugada, de Pe. Fábio de Melo. Confesso que esperava mais do livro, já que tinha lido uma obra do autor e tinha gostado por abordar um tema pelo qual eu estava passando naquele momento...mas isso é assunto para outro post.

O enredo gira em torno de um homem que se tornou amigo de Jesus e que o acompanhou boa parte de sua vida. No entanto, ao acompanhar seus últimos dias, esse protagonista sem nome – propositalmente, creio eu – não assumiu a amizade e o bem que Jesus lhe fez ao longo de suas intermináveis conversas pela madrugada afora.

Até este ponto da história encarei o protagonista com olhos de uma maldade sem fim, entendendo ser ele um dos opositores da doutrina cristã. O que me surpreendeu foi que, conhecendo mais de perto este personagem, constatei que a influência dos outros sobre seus pontos de vista era muito grande. Na verdade era uma pessoa extremamente fragilizada e com alguns nós pessoais ainda por resolver.

Não adiantando os fatos do enredo, em certo ponto da narrativa, o personagem – também narrador – toma uma atitude frente aos acontecimentos de sua vida e relembra, com extrema nostalgia, os diálogos e as conversas que teve com Jesus. Os pontos abordados pelo autor tocam em questões relativas à imagem de Deus na cultura dos homens, o valor e o verdadeiro sentido da fé cristã e da vida de certa forma.

Por esse breve resumo, percebemos a profundidade religiosa e filosófica colocada pelo autor. Não poderia ser diferente, já que o autor tem uma formação eclesiástica que dialoga diretamente com o modo de pensar teológico e cristão, logicamente. O único ponto que gostaria que fosse um pouco mais claro é a linguagem. Existem capítulos – curtos e densos – que se preocupam mais em explicar a base filosófica do desenvolvimento do personagem do que o enredo. É claro que isso pode ser uma característica de estilo do autor e sua formação, já mencionada, serve como um contexto de influência sobre seu modo de escrever.

O que gostaria de enfatizar é a prática do diálogo como fonte de conhecimento inesgotável e que foi, como nos relata o discurso religioso, a forma escolhida por Jesus para lançar as bases da doutrina cristã. Prova cabal de que a literatura está presente na religião são as parábolas. São histórias bem curtas e populares da época que, provenientes de uma cultura oral, conseguiram passar a moral cristã.

Os leitores que se interessam por temas religiosos e que não se apegam a clichês e frases prontas, com certeza irão se reconhecer na construção de um texto, por vezes, simples na construção de personagem e a ambientação da narrativa. Porém, profundo na abordagem de temas que tocam a humanidade na sua mais densa camada de sentido.

Título: O discípulo da madrugada
Autor: Padre Fábio de Melo
Editora: Planeta
Páginas: 182


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Consequências do medo [resenha]



Não é novidade que a vida é feita a partir de um conjunto de pontos de vista. Afinal, o que vivo hoje – neste momento – é uma perspectiva que somente eu tenho sobre o que estou vivendo e sentindo. Com outra pessoa é diferente. Ela está em outro lugar, com outras pessoas, sentindo e vivendo momentos diferentes, mas, por ironia do destino (?), elas podem se encontrar.

Essa foi a premissa de Apaguem as luzes, de Daniel Lucindo. O jovem autor, em seu romance de estreia, consegue formar um quadro sobre a vida de diversas pessoas motivadas por uma viagem aérea de Lisboa até Nice, uma cidade da França. O grande movimento do vôo é justificado pelo interesse de quase todos em assistir ao festival de música de Mônaco no dia seguinte.

Por todo o romance sabemos sobre os fatos que acometeram as pessoas no dia em que estavam prestes a embarcar no vôo com destino à cidade francesa. Assim, conhecemos o ataque de ciúmes da esposa do piloto devido à carona para uma comissária quase desempregada, o encontro de um casal dentro do aeroporto, a complicada vida de uma banda de rock que irá se apresentar no festival, o reencontro de antigos amigos, enfim todo o histórico vivido por essas pessoas que irão se encontrar naquele vôo.

A partir deste esquema o romance ganha contornos de ação e mistério, já que um dos protagonistas – Nuno – é atropelado pelo piloto ao chegar ao aeroporto e, misteriosamente, tem uma visão, uma espécie de aviso de Deus de que aquele vôo não poderá decolar.

Uma característica de estilo do autor é o modo de construção de personagens bastante trabalhado nas situações em que a mudança de trajes e nomes se faz necessária. Não adiantando os fatos finais do enredo, existe um personagem criminoso que consegue se esquivar de sua punição através de um disfarce muito bem planejado e que, por incrível que pareça, também consegue nos enganar.

Esse personagem será o motim para que Nuno e seu amigo Paulo sejam motivados a realizar uma séria perseguição com tom policial que desemboca em um final não muito previsível.

Embora o romance tenha uma estrutura de enredo bastante planejada no que se refere à construção das personagens, sua ordem de entrada na trama e o entrelaçamento de situações nos momentos que antecedem o vôo, a desenvoltura do texto poderia ser um pouco mais acelerada. Acredito que o tom de mistério da narrativa poderia ser colocado de uma forma mais imposta – não clichê – mas ajustada e colocada mais à frente de uma expectativa do leitor. É claro que isso não descaracteriza a arquitetura do texto como um mosaico de vidas que se cruzam e se embatem durante a narrativa.

A ida ao aeroporto, com seus percalços e situações vividas por cada um, consegue perfazer o sentido de uma metáfora para a vida como um conjunto heterogêneo de situações que se imbricam e se caracterizam por elas mesmas.

É nesse sentido que indico este livro àqueles que se interessam por questões que envolvem os disfarces e as diferentes faces que a vida nos propõe a representar, como uma tentativa de intervenção humana dentro do complexo que a vida nos apresenta.

Título: Apaguem as luzes
Autor: Daniel Lucindo
Editora: Chiado
Páginas: 490








Editora Parceira


Resenha - A lenda do cavaleiro sem cabeça


Repito: não gosto de resenhar livros que eu não gostei de ter lido! rs Sim, começo meu post já avisando então: não gostei do livro em questão, mas ainda assim vou tentar explicar o porquê. A lenda do cavaleiro sem cabeça, de Washington Irving (Leya, 2011, 66 p.) é um conto publicado em 1820. Conta a história do professor Ichabod Crane, que gostava muito de histórias de terror, e ao mesmo tempo, ficava muito impressionado com elas. Era considerado meio maluquinho pelos seus alunos, e seu maior prazer era comer. O pedagogo começa a prestar atenção em uma linda moça rica da cidade, a Katrina Van Tassel. Porém, a mocinha já tem um pretendente: como de praxe, o bonitão, da vila Sleepy Hollow. Um dia o pai da moça dá uma festa, e Crane é convidado. Porém, coisas muito estranhas acontecem. Agora, sobre o título: há uma lenda na vila de Sleepy Hollow, que conta que um ex-combatente da guerra foi morto e decapitado, e que seu espírito ronda a cidade e região. E a lenda chama-se como?! A lenda do Cavaleiro sem Cabeça ;)

O título original do livro é The legend of Sleepy Hollow e isso justifica o porquê de o livro não dar tantas voltas em torno do Cavaleiro sem Cabeça. Porém, não me dei conta de que o título era este, e li com expectativas de que seria um terror dos grandes, e que tudo iria girar em torno da figura da capa. Na época em que o livro foi lançado, o gênero horror/terror estava começando a entrar na moda. Alguns autores escreviam com maestria, conseguindo deixar seus leitores bem tensos. Porém, não senti isso em Irving. Considerei o humor dele interessante, mas o clima de horror não me convenceu. Outro ponto negativo, foram as descrições. E aviso: são muitas, muitas mesmo. Para quem não gosta de tantas descrições - de coisas irrelevantes, diga-se de passagem -, como eu, não irá aproveitar tão bem esta leitura. Para mim, quando a leitura estava começando a fluir de forma gostosa, acabou a história. Enfim, isso (das descrições serem muitas) é questão de gosto, e no meu caso, expectativa. Não imaginava que a leitura seria tão arrastada para mim. Fiquei sinceramente bem triste por não ter gostado do livro :(


Porém! Existe um desenho animado da Disney. Você pode encontrá-lo neste link. E confesso que gostei muito mais do desenho do que do livro. O que senti ao assistir foi um pouquinho daquela nostálgica sensação de "medinho", que quando eu era criança, sentia ao assistir uma animação de terror. Existe também o filme de mesmo nome, que foi lançado em 1999, com direção de Tim Burton, e tendo como Crane o seu impagável companheiro Johnny Depp. E ainda a série Sleepy Hollow, que estou totalmente maluca para assistir rs

Alguém aí, viu alguma das adaptações? Leu o livro? O que achou? :)

Aqui eu faço uma resenha em vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=z9kQreF1biE

Título: A lenda do cavaleiro sem cabeça
Autor: Washington Irving
Editora: Leya (selo Barba Negra)
Páginas: 66 p.


domingo, 16 de novembro de 2014

Resenha - A menina que ouvia demais

Hoje vim falar do último livro juvenil que li, chamado A menina que ouvia demais (Multifoco, 2014, 181 p.). Ele foi escrito pelo meu primo, Maurício Kanno.
A história se passa num futuro - acredito que - não muito distante, onde o narrador de um livro passa a ser ouvido por sua personagem principal, Isa. O narrador Bóris então começa a achar que está ficando totalmente maluco, afinal, como uma personagem que ele próprio está desenvolvendo, pode estar escutando a vida do outro lado do papel? Pra piorar a situação, Isa é uma pré-adolescente, então está naquela fase chatinha, de que todos devem concordar com sua opinião - e dá pitado em tudo. Para amenizar isso, Bóris começa a enchê-la de brigadeiros. Tudo para que a personagem fique quieta em seu canto, e a história possa ser escrita com maior tranquilidade. Acontece, que o chefe de Bóris pensa que o homem está maluco, e o próprio narrador também começa a acreditar nisso - procurando até mesmo um psiquiatra! O desenrolar da história se dá através de intensos diálogos, entre o narrador, Isa, e capítulos que contam sonhos que a personagem principal vêm tendo: uma vida futura, com ela já bem velhinha, tendo que lidar com monstros esquisitos.
A ideia do livro é bem interessante, bem maluca haha Minha mente entrou em transe em vários momentos. A leitura torna-se bem fluida pela quantidade de diálogos e pelas poucas descrições que temos do ambiente. Maurício é bem objetivo na história e não prolonga coisas irrelevantes. O que achei o ponto alto da história é a interação que temos com a comunicação ao nosso redor. Hoje temos tantos meios de comunicação - TV, rádio e principalmente internet -, onde tudo acontece de uma forma tão rápida, tão dinâmica, que muitas vezes podemos mesmo imaginar que estamos pirando. Prepare-se para ler este livro, que seu cérebro pode bugar haha
Título: A menina que ouvia demais
Autor: Maurício Kanno
Editora: Multifoco
Páginas: 181

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Resenha - Silêncio

Olá, bom dia! Tudo bem aí?!

Pedi para vocês escolherem no Facebook do Bibliotecária Leitora qual livro deveria resenhar... E ganhou por um voto o livro Silêncio: doze histórias universais sobre a morte, de Ilan Brenman e Heidi Strecker, lançado pela Companhia das Letras (2012, 112 p.). Eu comprei este livro naquela promoção que teve da Editora Companhia das Letras, para o dia das crianças, sendo que vários livros infanto-juvenis estavam com 50% de desconto. Peguei ele e mais três. Este foi o último, para cobrir o frete rs Fiquei curiosa por causa do título e pela capa, que achei bem bonita.


Silêncio reconta doze histórias, lendas e mitos de várias épocas e regiões do mundo, como Índia, Egito Antigo, Brasil e Grécia Antiga. O livro é dividido em três partes: A busca da imortalidade, onde traz histórias de homens que tentam a vida eterna, com uma pequena ajuda dos deuses; Amores que nunca morrem, com histórias famosas, como a de Tristão e Isolda; e Morte e Renascimento, que traz lendas de mortais que enfrentaram grandes perdas, com a esperança de que tudo iria voltar a ficar bem. A publicação teve o apoio de 4 Estações Instituto de Psicologiaque é um Instituto que ajuda pessoas (incluindo crianças e adolescentes) a conviver com a morte (e a vida, de certa forma), de forma sadia, sem receios, mas com sabedoria e coragem. São quatro psicólogas responsáveis por esta função, sempre tendo fundamentação em princípios de Psicologia da Saúde e e Psicologia Clínica.

As histórias são interessantes, apesar de eu achar algumas inapropriadas para crianças (por conterem "cenas" de sexo). Boa parte são histórias que já conhecemos ou que foram retiradas de poemas também já conhecidos. Alguns desses contos achei bem cansativos, talvez pelo modo como eram contados. É interessante para jovens em idade escolar.

Título: Silêncio: doze histórias universais sobre a morte
Autor: Ilan Brenman e Heidi Strecker
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 112


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cartas, cartas, cartas...


Parece redundante dizer que escrever cartas não é comum nos dias de hoje. Afinal, com a infinita tecnologia que nos cerca, é difícil pensar em alguém escrevendo e postando uma carta. Mas, isso existe!

Logo que me vi interessado por esse livro, pensei: Porque uma pessoa escreve cartas? Que sentido a escrita, como prática e costume, tem para essa pessoa? São perguntas intrigantes que, ao longo da leitora, foram respondidas, creio eu.

Cartas de amor aos mortos, de Ava Dellaira é um romance epistolar, ou seja, formado por cartas escritas pela protagonista Laurel para personalidades do mundo pop que já se foram. Estrelas como Judy Garland, Elizabeth Bishop, Kurt Cobain, River Phoenix, Amélia Earhart, Amy Whinehouse entre outros são os destinatários das cartas da personagem que, fazendo seu trabalho de Inglês, consegue desabafar sobre o incidente com sua irmã May.

Desde o primeiro contato com o texto, percebemos uma linguagem bastante suave e delicada. São frases curtas e com palavras fortes em seu sentido, o que faz uma tradução competente na escolha dos termos adequados de um produtor de texto adolescente.

Isso faz com que a oralidade seja uma característica bastante pontuada pela caracterização dos personagens nos diálogos entre intervalos e os encontros no beco próximo à escola. Hannah, Natalie, Sky e outros personagens foram um quadro de um típico romance YA (young adult, ou jovem adulto – infantojuvenil) com tramas que se passam com adolescentes na escola ou com problemas com a família, como neste caso.

Um ponto forte e bem trabalhado neste livro é a forma como a autora vai expondo o trauma sofrido pela protagonista. O ato de contar os fatos ocorridos com sua irmã mais velha faz de Laurel uma adolescente obcecada por seus gostos e hábitos. Não me intrometo a contar o que realmente aconteceu, mas acredito que um leitor esperto o suficiente consegue juntar as pistas deixadas pelas cartas da protagonista e entendê-la de uma forma mais humana.

Infelizmente, o livro tem alguns pontos a desejar como rodear o mesmo assunto várias vezes, caracterizar exaustivamente o comportamento e apelar para um clima piegas de um romance que mal começou a engatinhar, como Laurel e Sky.
É um livro bastante encorajador na forma de tratamento de um tema profundo em termos psicológicos: o luto. A perda de alguém querido é um sentimento bastante sofrido e acredito que a escrita das cartas é uma forma de lidar com esse impasse da condição humana.

Título: Cartas de amor aos mortos
Autor: Ava Dellaria
Editora: Seguinte
Páginas: 337


terça-feira, 11 de novembro de 2014

O que seria da vida sem livros?


Realmente existem livros que nos inspiram. Uma lista de clássicos nacionais e estrangeiros pode ilustrar isso. Mas, por incrível que pareça, os livros de hoje podem nos dizer (e muito!) sobre os valores que eles – os próprios livros – têm a nos transmitir.

Claro que não é novidade o fato de livros falarem sobre livros. Pois bem, recentemente me deparei – na Bienal do Livro deste ano, diga-se de passagem – com uma capa, no mínimo, elegante. Vários livros abertos e preenchidos em tons pastel com a frase: “Nenhum livro é uma ilha; Cada livro é um mundo”. Claro! É de A vida do livreiro A.J. Firkry, de Gabrielle Zevin que estou falando.
Primeiro o enredo: numa ilha chamada Alice Island vive A. J., um livreiro carrancudo e solteiro que mora no andar de cima de sua livraria e, espantosamente, não é muito educado com seus clientes e representantes de editoras.

Um dia, ao deixar a porta destrancada (isso pode ser um spoiler, ok?) um bebê é deixado entre as estantes de sua livraria e mais: seu exemplar raro de Tamerlane - um livro raro de Edgar Allan Poe – foi roubado. A partir deste ponto, a vida deste homem muda completamente com a adoção da pequena Maya. Anos depois, com a filha doente, o livreiro se distrai ao lado da cama com o exemplar deixado por uma amável representante: Amélia. A leitura do livro faz com que o protagonista se interesse pelo gosto da moça, o que desencadeia uma serie de sentimentos no livreiro.

De ponta a ponta no livro, convivemos com o dia-a-dia de uma livraria bastante convencional de uma cidade pequena, com seus clubes do livro, os hábitos de seus clientes e eventos um tanto estranhos, como a presença de autores excêntricos.

Infelizmente, lamento por alguns nós desta edição: a revisão deve ser realmente refeita. São erros bastante comuns, como vírgulas fora de lugar, tradução de expressões ao pé da letra que não soa bem em Português e erros de regência verbal. Acredito que não tenho o direito de depreciar o trabalho de uma editora bastante conhecida, como a Cia. das Letras e o selo Paralela, mas, infelizmente, isso um dos pontos que enfraqueceram a recepção do texto.

No entanto, esse livro é indicado aos amantes dos livros e que reconhecem, ainda que seja uma ideia um tanto clichê, o poder transformador da leitura que atrai pessoas com gostos em comum. Afinal, pelas palavras de A.J.: “Você descobre tudo [de] que precisa saber sobre uma pessoa com a resposta desta pergunta: Qual é o seu livro preferido?”(p. 69)

Título: A vida do livreiro A. J. Fikry
Autor: Gabrielle Zevin
Editora: Paralela
Páginas: 186



terça-feira, 7 de outubro de 2014

O Senhor Bullying


Para quem já está habituado com vídeos-resenha sobre livros na internet, o canal Cabine Literária já é obrigatório nas listas de reprodução do Youtube. São lançamentos do mês, crítica de algum título específico ou as leituras em andamento dos integrantes do canal que fazem sucesso pelo jeito espontâneo e descontraído.

Com uma edição linda, um texto leve e com capítulos bem divididos, Por que Indiana, João?, Danilo Leonardi aborda um tema frequentemente estudado por especialistas nas escolas hoje: o bullying.

Imaginem um menino franzino e desajeitado, com boas notas e tímido. Esse é o perfil de João que se sente estranho, desajeitado e tem apenas um amigo. Mais do que o constrangimento e a vergonha de ser humilhado, as brincadeiras com João tomam uma proporção inimaginável com o post polêmico de sua vingança contra Guilherme, o provocador. Além de sofrer a perseguição na escola, o garoto do primeiro ano do Ensino Médio é filho de pais separados e não consegue se abrir sobre o problema em casa, já que sua mãe está sempre preocupada com outras coisas “mais importantes” do que os sentimentos do filho.

Uísque era o apelido do garoto até então: Uísque... sito! Depois que seu pai percebe o apelido dado pelos garotos da escola no supermercado, o protagonista consegue explicar o que realmente está acontecendo.

Entre idas e vindas na sala da estranha coordenadora pedagógica – um clássico exemplo do modo como a escola age, certas vezes – João perde o controle quando seu problema vai para a internet, fazendo com que a narrativa tenha reviravoltas que nos surpreendem. Com a popularidade instantânea e os milhões de visualizações de seus vídeos, outras pessoas são encorajadas para declarar seus sofrimentos na escola. Entre elas, um garoto bem problemático que leva seu sofrimento às últimas consequências... mais do que isso é spoiler, ok?

Um livro comovente e simples de ser lido. Reconhecemos nele alguns aspectos do trabalho do jovem autor como editor-chefe de um dos mais populares canais literários da internet. Apropriando-se de uma fórmula bastante conhecida de narrativas para jovens adultos (ou Young adults, YA), a pontualidade dos diálogos na caracterização de personagens em ambiente escolar faz deste livro um excelente ponto de partida para uma discussão sobre o bullying que já fez muitos alunos sofrerem e levarem, infelizmente, suas consequências para a vida adulta.

Título: Por que Indiana, João?
Autor: Danilo Leonardi
Editora: Giz Editorial
Páginas: 208


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Uma voz de liberdade


É bem verdade que alguns livros nos incomodam. Não no sentido pejorativo, quero dizer. Existem aqueles que conseguem, na competência de seus temas, tocarem em nossas feridas de um modo particular.

Ao receber um texto em mãos, sempre penso em como proceder na apuração dos temas para a organização de um texto que reflita, ao menos para o leitor, minhas impressões de leitura e seus sentidos. Todo um trabalho de costura de idéias que, por vezes, demora para ser organizado.

Isso não aconteceu quando li Sementes divinas, de Lindalva Galvão devido a sua escrita pungente de humanidade. Explorando temas pertinentes para os dias de hoje, suas situações de vida conseguem colocar em palavras sensações verdadeiramente vividas e sofridas.

O livro inicia com uma autobiografia em que conhecemos os percalços vividos pela autora. São embarques e desembarques em cidades do Vale do Paraíba, retratos do cotidiano difícil da mãe em seus empregos, a entrada para a ordenação religiosa e o início da carreira no magistério. Tudo contado com sentimentos latentes que consegue entremear diálogos e descrições de uma forma testemunhal; o passado é revisitado tendo em vista um novo futuro. É essa a sensação que mais prezo em um texto de qualidade: o que foi vivido no passado pode se atualizar no presente e ser levado para o futuro.

A partir deste ponto, a divisão dos capítulos sugere um aprofundamento maior de alguns temas explorados em sua autobiografia. Três deles se destacam: o racismo, a intuição e a experiência em sala de aula.

O primeiro deles é narrado através de episódios. À maneira de sketches, alguns momentos são contados revelando atitudes discriminatórias e desdenhosas de pessoas que, como define a própria autora, comportam-se como “senhores feudais”. É verdade que o racismo foi adquirido sócio-historicamente no Brasil, mas isso não justifica, em hipótese alguma, atitudes preconceituosas. Um tema polêmico, sem dúvida.

Alguns aspectos psicológicos também são tratados no livro de uma forma leve. A intuição – na caracterização de situações curiosas – dá ênfase nas “coincidências” do cotidiano.

Confesso que a última parte me chamou bastante atenção. Embora se refira à educação de crianças de um modo particular, os pontos de vista podem ser encarados como reflexões para a educação de forma geral.

São situações que só o professor, vivendo a realidade de uma sala de aula, consegue sentir. Os problemas com pais e responsáveis que refletem na educação dos filhos, a relações, por vezes, conflituosa de professores e pais, ou professores e alunos. Um desabafo para questões pontuadas através da aguda observação de gestos de educadores: cenas de um contexto de trabalho e o rigor de uma professora comprometida com a educação.

Vale ressaltar que o modo de tratamento de temas polêmicos pode ser mais importante do que o tema em si, na sua concretude. Pensando na questão do racismo, podemos realizar um diálogo, na aproximação de temas e seus desdobramentos, com produções literárias e (porque não?) cinematográficas que os abordam em um viés histórico. Exemplos não faltam das páginas dos livros ou dos estúdios de cinema.

Quando finalizei a leitura, alguns deles me vieram à mente de forma bastante clara como A cor púrpura, de Alice Walker; 12 anos de escravidão, de Solomon Northup e Django livre, dirigido por Quentin Tarantino pelo retrato da condição escrava e do racismo, logicamente. Todos me fizeram pensar na condição humana de liberdade, de um ser pensante que exerce suas funções sociais, independente de seu credo e sua raça.


Acredito que essa leitura foi uma chave de despertar sentimentos e sensações incômodas. Um incômodo bastante encorajador para entender a vida, ao vê-la pelos olhos do outro.


sábado, 27 de setembro de 2014

Resenha - Manual do telespectador insatisfeito

Olá! Tudo bem com vocês?
wagner
A resenha que venho fazer hoje é de um livro bem interessante. Ele é um pouco mais técnico: na realidade, peguei emprestado (ou alugado, como costumam dizer meus alunos haha) da biblioteca onde trabalho. Chama-se Manual do telespectador insatisfeito (Summus, 1999,130 p.), e foi escrito pelo roteirista e diretor de programas educacionais, Wagner Bezerra. É um livro antigo e infelizmente sua realidade é atual. O autor, de forma bem dinâmica e tranquila, mostra-nos a grande decepção do público (principalmente de pais) quanto à programação da TV aberta brasileira. O livro é dividido em cinco partes: a primeira parte diz qual o papel social na TV; a segunda parte, quem regulamenta a programação; a terceira, quem é o "dono" da televisão; a quarta, a cidadania na televisão; e a quinta, a educação voltada às crianças.
O autor pega diversos depoimentos que eram enviados a algumas revistas (como a IstoÉ) e ao Jornal do Brasil, mostrando a grande decepção dos pais quanto à depreciação que a mídia impôs (sim, impôs) diante de nossos olhos. A violência e sexo explícitos desfilam diante de nós, e infelizmente, não sabemos a quem recorrer. Apenas um parênteses meu: Muitas pessoas já se acostumaram a esta situação, e acham bonitinho e normal os filhos imitarem tudo o que veem na TV (Eita, Giovana). Mas não, não tem nada de engraçado. Com a crescente piora dos programas televisivo, vemos também outros problemas aumentando gradualmente. Tudo o que acontece aqui fora das telinhas, é reflexo do que vemos nela.
Bezerra também nos apresenta uma entrevista que ele fez com a Anatel (a Agência Nacional de Telecomunicações), onde mais abaixo você pode ler um trecho. Nesta entrevista (que na realidade, são perguntas enviadas por e-mail), o autor faz diversas perguntas, principalmente voltadas à responsabilidade da programação. Por mais que a Anatel afirme que, segundo a Constituição Federal, é dever das emissoras de rádio e TV apresentarem ao público programas com finalidade educacional e cultural, a mesma Agência tira o corpo fora quando é perguntada sobre a responsabilidade de vigilância e critérios que deveriam ser adotados perante ao abusivo "entretenimento" que nos é entregue. E aí fiquei me perguntando: qual o real papel da Anatel? Observar somente?
É um livro recheado de informações interessantes. Fiquei ainda mais animada para ler (ler, ler, ler, minha vida é ler!) e desligar a televisão!
anatel
Título: Manual do telespectador insatisfeito
Autor: Wagner Bezerra
Editora: Summus editorial
Páginas: 130
Resenha em vídeo aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=zevFdr2C7Hg

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Resenha - A vida secreta de Jonas + O fantasma que falava espanhol

Olá!
Hoje venho fazer uma resenha de dois livros infanto-juvenis que li na semana passada. Os dois livros são de Luiz Galdino, um autor de minha região. Ele nasceu na cidade de Caçapava, interior de São Paulo, e é professor e escritor. Tem quase sessenta obras lançadas, dentre elas, infanto-juvenis, ficção para adultos e ensaios. Já ganhou mais de trinta prêmios, como o Prêmio Literário Nacional do Instituto Nacional do Livro (DF) e o Jabuti. Os dois livros que li de Luiz Galdino, foram livros que eu comprei em sebos, e fazia muito tempo que eu queria ler. Irei falar um pouco sobre cada um deles.
jonas
A vida secreta de Jonas (Ática, 1999, 96 p.) é um dos livros da série Vaga-lume, série tão consagrada nos anos 90. Neste livro, somos apresentados a um grupo de amigos: Geninho, Cláudia, Maurício, Rubão, Rafa e Ana Paula. Estudam na mesma escola e todos os dias se encontram num banco da praça. Um dia, vêm em direção a eles um garoto loiro, com roupas bem esfarrapadas. O grupo, de início, estranha o indivíduo, mas Geninho e Ana Paula acabam simpatizando muito com ele. O garoto não lembra de nada de sua vida: de onde veio, de seus pais, e até de seu nome. Eles o batizam de Jonas. Porém, Mauricio e Rubão não gostam nem um pouco da presença de Jonas e fazem de tudo para que o grupo vire as costas para ele. A cidade começa a ficar desconfiada e com medo deste garoto tão estranho. Por que ele não lembra de nada? De onde ele veio? Por que é tão simpático, mesmo quando todos estão contra ele?
Gostei bastante do livro. Como vocês já devem saber, o tema extraterrestre me interessa muito haha  Fiquei bastante curiosa com o rumo da história, e em vários momentos fiquei bastante confusa: Jonas é ou não é um extraterrestre?

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O fantasma que falava espanhol (FTD, 1994, 103 p.) segue a mesma linha de A vida secreta de Jonas: cheio de aventuras. Um grupo de amigos vai até uma ilha, querendo fazer uma pesquisa sobre barcos afundados. Lá eles devem se encontrar com o senhor Ernesto, que é o único morador da ilha, para pedir mais informações. Vasculhando o pequeno monte de terra, encontram um casarão abandonado. Os mais corajosos espiam para dentro da casa, mas algo muito estranho acontece: Cláudia quase leva um tiro. De onde veio aquele tiro? O senhor Ernesto é o único morador da ilha e aparenta ser um senhor muito tranquilo. Durante a estadia dos amigos na casa do pescador, ele conta que há uma lenda de que aquela casa é mal-assombrada. E muitas coisas estranhas vão acontecendo: algo ou alguém está querendo expulsar os visitantes da ilha por algum motivo.
Desde criança eu morria de vontade de ler este livro. Havia uma série na TV Cultura chamada O fantasma escritor - que por sinal, com todo mundo que eu comento, ninguém lembra. Tenho até medo de ser fruto da minha imaginação haha -, onde havia um grupo de amigos que se comunicava com um fantasma (tinha uma caneta muito maneira que escrevia "sozinha") através da escrita. E sim, eu queria ler este livro por causa desta série da TV Cultura. Talvez o livro trouxesse lembranças da época. Mas foi bem diferente do que imaginei! O fantasma é bem malvado, tentando a qualquer custo assassinar o grupo de jovens. Um livro bem gostoso de ser lido.

Título: A vida secreta de Jonas
Autor: Luiz Galdino
Editora: Ática
Páginas: 96
Título: O fantasma que falava espanhol
Autor: Luiz Galdino
Editora: FTD
Páginas: 103

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Resenha - O pequeno livro das páginas em branco

Olá, boa noite!
Vixi, to vendo que esse mês é o mês dos livros infanto-juvenis haha
paginas em branco
Já li alguns (como você pode ver na minha listagem dos livros lidos no ano de 2014), e este não foi meu favorito. O pequeno livro das páginas em branco (Scipione, 2006, 80 p.) é um livro infanto-juvenil que foi adaptado de um teatro pelo mesmo autor, Jaime Celiberto. Conta a história de Natália, uma garota de 16 anos que acabou de perder o pai. Ela sofre muito com a perda, colocando sempre a culpa em si mesma, relembrando o quanto maltratou seu pai em vida. É uma garota muito sem juízo, muito respondona. Para tentar escapar de sua culpa, resolve ir morar com o avô, deixando mãe e irmão para trás. Só que percebe que não é tão fácil livrar-se dos problemas, apenas mudando de lugar.
Achei o livro bem forte, para ser chamado de infanto-juvenil. O modo como o autor escreveu é bem poético, e fiquei o tempo todo imaginando o livro em forma de teatro. É uma boa história sim, mas por achar o livro muito forte para ser infanto-juvenil (eu o chamaria de YA fácil, fácil) não chamou tanto assim minha atenção. Natália me irritou a maior parte do livro. Mas ok, suas "filosofias" eram bem legais de ser lidas rs  Indico, mas saiba que é um livro mais forte que sua capa fofinha ;)
Título: O pequeno livro das páginas em branco
Autor: Jaime Celiberto
Editora: Scipione
Páginas: 80 p.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Resenha - Perfil de uma mente criminosa, vol. 1 e 3

Olá! Bom dia!

Gosto demais de livros que tratam o tema psicopatia, thrillers policiais, horror, terror e companhia. Isto sempre me deixou com medo, mas sempre me enfeitiçou também (Meu irmão que o diga! Quando vejo filmes de terror, ele tem que dormir comigo, até hoje hahaha). Há umas três semanas, a biblioteca da faculdade em que trabalho, recebeu uma doação bem grande de livros sobre criminologia, direito penal e inclusão social. No meio de tantos livros técnicos, encontrei dois, que oh, fiquei apaixonada. Mas para minha decepção, veio faltando o volume 2 hahaha (Coisa feia Dani, é doação, você não pode reclamar assim!).

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Perfil de uma mente criminosa, volume 1, de Brian Innes (Escala, 2009, 88 p.) traça o perfil das mentes de vários criminosos (não, jura?!), onde o FBI entrou em cena. O autor primeiramente, expõe ao leitor uma breve história sobre a procura da personalidade humana através dos séculos. Antigamente, a mentalidade de um criminoso era analisada segundo o formato de seu crânio (!); mas logo alguns estudiosos viram que isto não fazia muito sentido, e começaram a estudar a mente. Ainda se atendo a algumas coisas que hoje, sabemos que não são possíveis basearmos somente nestas premissas, as análises foram progredindo e a arte da investigação foi sendo aperfeiçoada. O livro também conta diversos casos de assassinatos em série, como o famoso caso de Jack, o Estripador, que infelizmente até hoje não se é sabido quem foi realmente o autor dos crimes (nem se foi somente uma pessoa). Criminosos como o "Bombista louco" também foram procurados pela polícia nova-iorquina, sempre tão atenta às suas cartas lamentosas e ameaçadoras. Fiquei bem impressionada com várias partes do livro (é em formato de revista, mas eu o considero livro, pois tem ISBN rsrs), e sinceramente, fiquei me perguntando mais do que nunca: até onde vai a mente humana? Quais loucuras somos capazes de cometer? O que leva uma pessoa a cometer tais atos de crueldade, e não ter o mínimo de compaixão por suas vítimas?

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Já o terceiro volume, de Perfil de uma mente criminosa (Escala, 2009, 109 p.) o mesmo autor exibe diversos casos que aconteceram nos Estados Unidos e na Europa. Em meio aos casos, vai destrinchando perfis geográficos e até mesmo perfis grafológicos. Nos perfis geográficos, os analistas dizem que é possível encontrar onde o assassino mora ou onde passa a maior parte de seu tempo através de algumas táticas. Já os perfis grafológicos (isto me deixou bem interessada), estudiosos analisam as letras e a forma como a carta/bilhete é escrita! E poxa vida, eles acertam! Brian também vai revelando algumas teorias modernas da mente do crime (teorias estas que fazem sentido! rs). A última parte do livro (ou último "capítulo"), são mostrados a nós, leitores, como é feito o interrogatório pelo FBI. É coisa que não estamos nada acostumados a ver: um interrogatório muito, muito intenso, que mexe demais com a cabeça de qualquer um.
Gostei muito dos dois livros (e queria muito ler o segundo! haha), e indico demais. Acho até mesmo importante sabermos um pouquinho deste meio tão aterrorizante que ronda nossa volta. Psicopatas existem em todos os lugares, como diria Ana Beatriz Barbosa Silva, e lendo este livro, acredito!

Título: Perfil de uma mente criminosa: volume 1, A psicologia solucionando os crimes da vida real

Autor: Brian Innes
Editora: Escala
Páginas: 88 p.


Título: Perfil de uma mente criminosa: volume 3, Histórias reais de casos que abalaram a Europa e os EUA

Autor: Brian Innes
Editora: Escala
Páginas: 109 p.