sexta-feira, 30 de maio de 2014

Resenha - Muncle Trogg: O menor gigante do mundo



Muncle é um gigante-anão. Hã? Como assim? Não existem gigantes anões! No mundo de Janet Foxley existe sim. Em seu livro Muncle Trogg: O menor gigante do mundo (Intrínseca, 2012, 224 p.), a autora nos apresenta uma família de gigantes que moram no Monte das Lamentações. Pá, Mã, Muncle, Gritt e Flubb fazem parte desta família. Junto com seus amigos (e "inimigos"), vivem pacatamente governados por um rei, e orientado por um gigante chamado Biblos (o Homem Sábio). Eles têm uma vida normal: as crianças vão à escola, os pais caçam, as mães cozinham. Porém, tem algo maior que o Homem Sábio tenta desvendar: o Livro! Ele possui algo de seres que eles consideram mágicos: os Pequenotes. Dentro do Livro, imagina ele, possuem fórmulas mágicas que somente estes seres conseguem ler. Seguindo esta premissa, Muncle acaba envolvendo todos os gigantes numa enorme aventura.

Vi algumas resenhas sobre o livro (em blogs e no Skoob). O que mais me impressionou foi que em todas as pessoas comparam o livro com Como treinar seu dragão, de Cressida Cowell. Eu não li esta série, mas olhando de longe, realmente elas tem o mesmo formato: desenhos, um personagem fantasioso, páginas que parecem estar "sujas" (com manchas), e uma capa chamativa. Imaginando uma perspectiva infantil, eu leria este livro sim. É uma história que chama a atenção, e tem um vocabulário fácil. Na realidade, tem alguns termos que podem vir a não agradar muito ao público adulto: bolota, peido, verrugas peludas, e por aí vai. No começo, achei meio desconfortável a leitura, mas acabei me acostumando depois.

Ah! E os diálogos são engraçados. São coisas que consideramos tão comuns, tão bobas, mas para uma criança fica tão real. Chega perto de sua realidade infantil, e dá aquele sabor de fantasia aos mais crescidinhos. Indico para todas as idades. É bom, de vez em quando, voltarmos a ser crianças, não é?!

Título: Muncle Trogg: O menor gigante do mundo
Autor: Janet Foxley
Editora: Intrínseca
Páginas: 224


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Dobradinha Book Music - Paulo Leminski


Paulo Leminski, poeta curitibano, sempre preferiu poemas breves, trocadilhos e brincadeiras no meio de suas obras. Além de poesias, Leminski escrevia músicas, traduzia, era professor e crítico literário. O poeta “cachorro louco”, como se auto-denominava, escreveu diversas obras que hoje encontram-se esgotadas, ou bem raras de ser encontradas.

Lendo esta reunião de poesias de Paulo Leminski (organizada por Fred Goes e Alvaro Marins, Global, 2002), deparei-me com duas que me trouxeram ótimas lembranças: Caprichos e Relaxos e Polonaise. Sim! Essas pequenas poesias passavam no Castelo Rá-Tim-Bum, quando o personagem Gato ia contar histórias às crianças do Castelo. Será que é com você assim, também? Escuta uma música, ou lê um poema aleatório e não liga a obra ao artista? Aconteceu comigo há um tempo. A música Fanatismo (que tem duas versões: 1 e 2) interpretada por Zeca Baleiro e Fagner, é uma poesia da portuguesa Florbela Espanca. Já havia lido duas obras da autora, mas não reparei. Além de Fanatismo, Fagner adaptou outras poesias de Florbela ao seu repertório. Particularmente, acho fantástico. É somente uma obra, mas ficam distintas quando escrita e audível.


Gostei bastante do estilo do autor. Confesso que não fiquei muito entusiasmada no começo. Quem pega pra ler primeira vez Leminski, deve ter em sua mente que ele não escreve como os outros poetas: poemas do fundo do coração e escrita ritmada. Achei o Cachorro Louco bem real. Bem humano. Não no sentido Adélia Prado, mas no sentido hum... Paulo Leminski! - Pois é, não encontrei ninguém para comparar. Humano com seus defeitos, falhas, cruezas e maldades que ninguém confessa.

Título: Paulo Leminski
Autor: Paulo Leminski (Organizadores: Fred Goes e Alvaro Marins)
Editora: Global
Páginas: 224


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Quase uma resenha - Pretérito Presente


Quando eu e o Ivan combinamos de fazer um blog juntos, fiquei com medo. Sério. Ele escreve muito bem. E eu fiquei pensando: Putz! Vou ser massacrada com suas resenhas haha Mas ele tem me ensinado tanta coisa sobre escrita, resenhas e gostos literários, que pronto. Esse medo já passou.

Aí a vida anda, o mundo dá voltas e eu me pego com o livro Pretérito Presente (Pax e Spes, 2003, 100 p.) nas mãos. Um livro de poesias, de um autor que nunca havia escutado. Penso: o que eu vou falar de um livro, de um cara, de uma escrita que não gostei? Vou lá colocar uma minúscula biografia do autor. E ficaria assim:


Ives Gandra é advogado, escritor e professor. Foi um dos primeiros brasileiros a ingressar no Opus Dei. Em seu livro Pretérito Presente (Pax e Spes, 2003, 100 p.), apresenta várias poesias - bem curtinhas - que, segundo ele, alguns foram escritos em uma hora cada (estes datados em 1961).


Não, né?! Quem está interessado em saber se o senhor é advogado, ou foi ingressante do Opus Dei? Provavelmente 0,05% da população. Bobagens à parte, vamos falar sobre o livro! Ele é dividido em três partes: Versos por uma hora; A capa de espaço em branco; Verso do Eu presente. Percebe-se em seus poemas um tom bem pessoal - e até mesmo emocional. Vários - vários mesmo - são dirigidos à esposa e aos filhos. Outros tem um quê religioso. A escrita é rebuscada.

Pra mim, existem livros de poesia e livro de poesias. O segundo tipo, livro de poesias, eu foco nas poesias em si: são aqueles livros realmente especiais, onde há vários escritos que podem até mesmo estar falando sobre um mesmo assunto – político, pessoal, emocional, mundano -, mas que o autor consegue expressar seus sentimentos com a real poesia: simples, pura. Acredito que Pretérito Presente se encaixe no primeiro: livros de poesia (onde foco os livros, isto é: um a mais, entre tantos). Num tom repetitivo e muito, muito pessoal, Gandra não conseguiu me agradar. É mais um livro que li e que, sinceramente, não acrescentou em nada em minha vida pessoal.

Título: Pretérito presente

Autor: Ives Gandra
Editora: Pax e Spes
Páginas: 100


sábado, 24 de maio de 2014

Resenha - Vampyro


Triste quando vemos um clássico que muita gente leu, e nós não, não é?! Eu não tenho muita paciência pra ler clássicos. Até gostaria de ler mais, sim. Mas fico vendo tantos, tantos livros – realmente bons! - que eu ainda não li, e que eu preciso ler antes de morrer, que não me sobra muito tempo para classicões (como Jane Austen, Kafka, Jorge Amado e outros). Um livro que considero “clássico” - com o perdão da palavra, para muitos – é Drácula (Bram Stoker). É um clássico do terror, um clássico que faz muita gente ter pesadelos até hoje. Nunca peguei o livro para ler. Nem Entrevista com o Vampiro (Anne Rice). Assisti aos dois filmes. Faz muito tempo, mas assisti. E não voltarei a assistir novamente. Drácula, pelo motivo de que – poxa, venhamos e convenhamos - é nojento! Aquele bicho horrível atacando a moça. E Entrevista com o Vampiro assisti quando tinha uns doze anos de idade. Isto é, não fiquei muito animada. Mas aí entra a questão: vou fazer um blog. Preciso ler mais coisas interessantes. Não só pra resenhar para o blog, mas por notar que estou perdendo muito por isso.

Numa feira literária que estava acontecendo em minha cidade, comprei Vampyro: O terrível diário perdido do Dr. Cornélius Van Helsing (Novo Século, 2008, 30 p.). Compro muitas vezes por impulso (muitas vezes define-se quase todas as vezes) e pelo desenho da capa. Algumas vezes compro um livro totalmente desconhecido (que nem é cadastrado no Skoob) só pra ter aquele gostinho de falar: “Ah, é um livro meio desconhecido”. Sou boba assim. Mas se vocês vissem esse livro... Dariam muita razão a mim. O livro é todo ilustrado, tem partes que são pop-up, e muitas, muitas vezes, fiquei em dúvida se a página em que eu estava, teria alguma alça para puxar. Eu tive que parar em um ponto do livro e voltar até seu começo e passar as mãos na página inteira para ver se perdi alguma coisa. Ele é incrivelmente temático. Tão temático que eu me perdia na história.

Vampyro conta a história do doutor Van Helsing e seu companheiro Gustav. Eles saem em busca de uma cura para o irmão do doutor que, acredita ele, tenha sido mordido por um vampiro. O livro é o diário de bordo de Cornélius, com suas anotações pessoais, anotações de Gustav, figuras, objetos, imagens holográficas e – pasmem! - pelo de lobo.

Claro que um de meus principais interesses na hora da compra foi o aspecto gráfico: ter aquele livro enorme, todo bonito em minha estante... Que sonho. Adorei ter lido esse livro e fiquei ansiosa por ler os dois clássicos, Entrevista com o Vampiro (Anne Rice) e Drácula (Bram Stoker). Apesar de, provavelmente, não ler neste momento, pretendo ter em mãos num futuro próximo.

Título: Vampyro

Autor: Cornélius Van Helsing
Editora: Novo Século
Páginas: 30



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Resenha - Ora bolas


De todos os poetas que eu conheço, considero Mario Quintana o melhor. Não somente por suas poesias - que não são "somente" poesias -, mas por todas as histórias que já ouvi dele como pessoa. "Como se poeta não fosse pessoa", ele provavelmente me diria, se estivesse vivo. Oras Bolas: O humor de Mario Quintana (L&PM, 2011, 146 p.) é um livrinho pequeno, escrito, compilado e adaptado por Juarez Fonseca. Foi um livro que ficou entre os mais vendidos de não-ficção, em 1994, ficando atrás somente de Chatô, o rei do Brasil (de Fernando Morais).

As histórias são contadas como crônicas de alguém que conheceu bem de perto o humor de Quintana. Dependendo do dia, acordava com o humor áspero; em outros já vestia o humor poético. Mas sempre sem papas na língua. Como disse Juarez, seus encontros - não somente com políticos, pelo visto - eram hilariantes ou, dependendo do ponto de vista, constrangedores.

"Inflação  (p. 53)
Época do governo José Ribamar Sarney, inflação de 80% ao mês – para começar. Come seu pastel com cafezinho no balcão de uma lancheria da Rua da Praia, sentado em um desses bancos altos e desconfortáveis. Como todo mundo faz, tem as pernas trançadas nas pernas do banco. Na hora de pagar, ao tirar o dinheiro do bolso do paletó, uma nota cai no chão. Lá de cima o poeta a olha desconsolado e isso é o bastante para que um rapaz, sentado na mesa próxima, se abaixe, pegando a nota e alcançando-a a Quintana, que agradece:
– Muito obrigado! No tempo que eu levaria para desenroscar as pernas e descer deste
banco, o dinheiro já teria perdido metade do valor..."

Vejo que seus pensamentos eram tão filosóficos, que beiravam o infantil. Perguntas bobas, comentários tolos, que chegam à pureza da criança. Assim como demonstra em suas poesias, Quintana gostava do cotidiano, gostava do simples, e não era o maior adorador da fama. 

“'Sou a falta de assunto predileta das professoras de Português da Grande Porto Alegre', divertia-se." (p. 65).

Encontrei esta incrível - e rara - entrevista exibida à TV Educativa, nos anos 90. Mario afirma: "A poesia para mim é um instrumento de reconhecimento do meu mundo, do mundo dos outros, e talvez dos outros mundos". Estou ainda mais encantada com este senhorzinho, que no dia cinco de maio completou vinte anos de falecimento.

Título: Ora bolas: O humor de Mario Quintana
Autor: Juarez Fonseca
Editora: L&PM
Páginas: 146


terça-feira, 20 de maio de 2014

Resenha - Pavor espaciar


Quando vemos um livro num canal do Youtube, geralmente ficamos malucos atrás dele. Eu sou assim. Nunca gostei muito de HQs (fora os da Turma da Mônica, que eu, em meu mundo, chamo de “revistinhas”), mangás, etc e tal. Mas quando vi que a Panini começou a publicar histórias da Turma da Mônica em capa dura, com outros desenhistas, já comecei a ficar interessada. Por sorte, consegui uma supertroca lá no Skoob, com o Leonardo (ou Leandro?) “Cantona”. Super gente boa, aceitou um livro que nem estava em sua lista de desejados. Troquei Mad Maria (podem me espancar. Um clássico por uma HQ) por Pavor Espaciar, escrito e ilustrado por Gustavo Duarte (Panini Comics, 2013, 82 p.).

Li a história em cerca de quinze minutos. Por dois motivos: um que eu queria muito ler, e dois que são muitas ilustrações pra pouco diálogo. Os pais de Chico Bento saem para um aniversário e deixam o filho e Zé Lelé sozinhos em casa. É quando entram extraterrestres na casa do Chico. A história, como eu já disse, tem pouquíssimos diálogos, mas parece que os personagens estão se movendo, de tão perfeitas as ilustrações.

O que eu acho meio chato é que: acredito nas boas intenções das pessoas, leio resenhas, comentários, assisto vídeos e tudo o mais que surge. Mas a gente vê uns comentários que não são tão legais sobre uma obra que queremos ler, ou que lemos, e que não tem fundamento nenhum. Não tem motivos explícitos de porque a pessoa não gostou e está criticando. Isso é comum na rede, eu sei. Mas incomoda. Achei o livro um tanto bom. E vi um comentário de que a história é muito fraquinha, principalmente porque não tem muitos diálogos. Ora, claro. Na introdução do livro (não leio muito introduções, mas esta fiz questão de ler, por ser de Maurício de Sousa), o ilustrador original da Turminha diz que o modo como Gustavo Duarte “escreve” é assim mesmo: sem muitas falas, mas expressando mais seus personagens pelo desenho. É uma história simples, mas que tem caras e bocas tão legais, tão gostosas de ser vistas, que o show já é dado por si.

Título: Pavor espaciar

Autor: Gustavo Duarte
Editora: Panini Comics
Páginas: 82



domingo, 18 de maio de 2014

Resenha - Coco Chanel & Igor Stravinsky


É certo que alguns assuntos sofrem (ou já sofreram) algum tipo de preconceito. Em se tratando de arte, a moda, de alguma forma, (já) foi vista como supérflua.

Com esse pensamento na cabeça, comprei – por impulso, talvez – uma ficção biográfica de uma das maiores personalidades desse mundo. Sim! O século 20 deixou um excepcional legado em termos de autoridade feminina e estou falando de Gabrielle Chanel, fundadora da famosa marca francesa de roupas e cosmésticos.

Coco Chanel & Igor Stravinsky (Larousse, 2010, 286 p.), de Chris Greenhalch relata a um pedaço da vida amorosa da estilista.

O fantástico deste livro está na construção das personagens femininas. Com a derrota de seu espetáculo da elite parisiense, Igor sofre com a mulher e os quatro filhos. Com segundas (terceiras e quartas) intenções, Coco o auxilia na moradia. É então feito um embate, no sentido psicológico do termo, entre a esposa (Catherine) e a amante (Coco).

Entre brigas e discussões ao longo do livro, o som melódico do piano funciona como trilha sonora de um caso de amor às escondidas. Um texto repleto de sutilezas e imagens metafóricas que se formam ao longo da leitura. Fantástica é a construção do modo de trabalho de Coco. Obcecada por detalhes e perfeição, a simplicidade de seu trabalho – nos cortes retos em preto e branco – se traduz pela linguagem um tanto densa e apegada aos detalhes do vestuário dos personagens. Acredito que nesse ponto o autor incorpora uma característica sagaz da estilista, no reconhecimento de seu temperamento forte e decisivo, bem típico da aura feminina do século anterior.

Não é à toa que o romance ganhou as telas do cinema, sendo apresentado no Festival de Cannes em 2009. O livro se vale pela escrita de um tom elegante, autêntico e, por vezes, soberbo que nos faz refletir sobre o relacionamento conjugal nos bastidores do mundo da moda que, agora, é parte de um dos segmentos de cultura do país.

A arte de fazer roupas, como estado de constante inspiração e talento (que a última edição da Revista Serafina não me deixa mentir!) é capaz de ser cenário de uma historia de amor com um desfecho impressionante.



Título: Coco Chanel & Igor Stravinsky
Autor: Chris Greenhalch
Editora: Larousse
Páginas: 286


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Resenha - Beijo,



Eu queria ler alguma coisa de terror, de suspense, ou que ao menos me deixasse incomodada. Tipo Stephen King. Mas todos do King que eu tenho em casa são "tijolos": não dá pra carregar na bolsa. Minha amiga me indicou O exorcista. Mas ok, não estou tão desesperada para ler terror assim. Então lembrei de Beijo, (Barracuda, 2007, 301 p.) que o Ivan havia me indicado. É de Roald Dahl, mesmo autor de A fantástica fábrica de chocolate, livro que eu adoro, e de Charlie e o grande elevador de vidro (que eu considero a continuação de A fábrica...). Resolvi lê-lo.

O livro é dividido em onze contos, com variações de humor: humor negro, ironia, e tem uns três ou quatro contos que considerei terror. Não é aquele terror que eu esperava: o qual ficamos com medo de nossa sombra ou de qualquer minúsculo ruído no cômodo ao lado. É algo requintado. Quem leu a A fantástica fábrica..., deve saber do que estou falando. Tratando-se de Dahl, não é novidade a nobreza de palavras. Na realidade, este clássico infantil também tem um quê de terror. É sombrio o modo como Sr. Wonka trata seus convidados.

Alguns contos são bem impossíveis de acontecer, como William e Mary, ou até mesmo Porco. Agora, os possíveis de acontecer são tão hilários que podemos ver em nossa frente cada cena contada; é o caso de Georgy Porgy ou O prazer do pastor. Confesso que fiquei em dúvida sobre sua veracidade em "Gênese e a catástrofe" e até em "Geléia real" ("geleia" não tem mais acento, eu sei. Mas está assim no livro, e é assim que vai ficar). Moral da história: cada conto tem uma cena que pode ser encontrada em nosso dia-a-dia; assim como em cada um tem fantasia o suficiente para nos fazer sonhar.

Título: Beijo,
Autor: Roald Dahl
Editora: Barracuda
Páginas: 301




quarta-feira, 14 de maio de 2014

Resenha - O azarão


Fazendo uma pequena pesquisa para este post, descobri que as leituras de jovens adolescentes não são mais as mesmas da minha época. Ainda não tinha percebido que a preferência por histórias de colégio ou com personagens adolescentes se tornou tão forte que criou uma nova linha de livros. São os chamados YA (young adult).

As histórias são simples. Um enredo plano, com personagens rasos, muitos diálogos e pouca descrição. É aquele tipo de livro que temos sempre a impressão de que algum personagem pegará a mochila para ir ao colégio.

Fiquei bastante curioso e li, pela indicação da minha parceira de blog, Daniela Vieira, O azarão, (Bertrand Brasil, 2012, 175 p.) de Markus Zusak. Não é preciso dizer que A menina que roubava livros, outro livro sensacional do autor, figure dentre um dos melhores que já li, certo?

Desta vez me detive na atrapalhada historia de Cameron Wolfe. Um pré-adolescente que não sabe bem ao certo que rumo tomar na vida. Não sabe como armar furtos bobos em um consultório de dentista e roubar uma placa de trânsito.

De todas as situações em que o protagonista e seu irmão mais novo se meteram, a paixão por Rebecca Conlon é a mais instigadora da historia. Após tê-la conhecido através do trabalho de seu pai, encanador a domicílio, o sentimento aflora todo momento em que a vê.

Dessa forma, o autor aborda um conceito bastante comum na adolescência e, por vezes, na vida adulta: a timidez e a persistência. Para derrotar a baixa auto-estima e conseguir se projetar na vida, Cameron deverá tomar uma atitude que depende somente de sua insistência (a partir daí será um spoiler, ok?)


Embora seja um texto fraco na construção de sentenças segmentadas e com um vocabulário raso, o livro se vale pela abordagem de temas inerentes à adolescência e seus problemas. Uma leitura atenta pode trazer à tona as recordações da nossa personalidade quando éramos mais jovens.

Título: O azarão

Autor: Markus Zusak
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 175


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Resenha - Para sempre


De vez em quando dá vontade de ler algum bestseller não é?! Particularmente não gosto muito de ler o dito cujo quando ele está em seu auge. Sinto curiosidade, claro; afinal algo de muito bom deve ter dentro do livro para ele ser tão vendido. Quando Para sempre, de Kim e Krickitt Carpenter (Novo Conceito, 2012, 144 p.) estava nas primeiras estantes das livrarias, confesso que não me interessei. Primeiro, porque eu só o vi com a capa do filme, coisa que tira um pouco do meu encanto. E pensei: esse título, essa capa melosa... Deve ser chatinho. Mas mesmo com este sentimento, acabei fazendo uma troca no Skoob.

Mas vamos lá: Nós sempre pagamos com a língua. Kimmer e Krickitt se conheceram através do telefone. Hoje em dia muitos casais se conhecem pela internet. Mas naquela época - 1992 -, eles não tinham isso. Krickitt era telefonista de uma loja que vendia artigos esportivos, e Kim era treinador de beisebol de uma Universidade no Novo México. Em uma das vezes que ligou para a loja, Krick o atendeu. Foi apenas isso que bastou para que Kimmer ficasse completamente apaixonado pela voz daquela mulher maravilhosa. Acabaram trocando telefones e durante o período em que se conheciam "de longe", também se enviavam cartas e fotos. Resolveram se encontrar pessoalmente. O encontro foi melhor do que os dois imaginavam. Em pouco tempo já estavam namorando e logo casados. Tudo bem rápido. Porém, nenhum dos dois estava preparado para o que viria a seguir: um acidente de carro, em que Kim ficou com sérios machucados na coluna; e onde Krickitt quase perdeu a vida.

Com uma linguagem um tanto leve (para tratar de um tema tão pesado) o casal escreve uma história muito bonita de fé, de amor verdadeiro e da tão – hoje escassa – confiança no matrimônio. É gostoso de ser lido. Chorei horrores. Mas um problema: fiquei um pouquinho entediada no último capítulo do livro (o que não é um spoiller, podem ficar tranquilos), sendo que a história em si já havia “acabado”. Quem leu (ou quem vai ler) talvez entenda o porquê.

Título: Para sempre

Autor: Kim e Krickitt Carpenter
Editora: Novo Conceito
Páginas: 144

sábado, 10 de maio de 2014

Resenha - 12 anos de escravidão


Mais do que uma confissão em lágrimas por um narrador estratégico, a narrativa em primeira pessoa de Solomon Northup nos estremece quando relata a violência do tráfico de escravos norte-americano.

Se os abusos cometidos pela escravidão já deixaram marcas na História, imaginem o que não aconteceria com um escravo traficado ilegalmente?

12 anos de escravidão, de Solomon Northup (Penguin/Companhia das Letras, 2014, 273 p.) retrata todo esse tempo em que o autor trabalhou compulsoriamente. Filho de pai ex-escravo, o protagonista foi enganado por dois sujeitos e acreditou, ingenuamente, que começaria uma brilhante carreira como violoncelista. Ledo engano. Na verdade, foi vendido e colocado à disposição de senhores interessados em financiar o tráfico ilegal de escravos nos Estados Unidos.

A partir disso, todo o enredo marca a sofrida trajetória do narrador-personagem na paisagem norte-americana. Apesar de se valer de uma linguagem um tanto densa na descrição minuciosa dos hábitos e costumes, como o funcionamento da lavoura de cana-de-açúcar e milho, o romance toca em uma questão profunda sobre o comportamento humano: o desconhecimento.

Mais do que proibir o direito à liberdade dos escravos e, em especial, do protagonista, o desconhecimento do futuro e a probabilidade remota de uma fuga bem sucedida para rever os filhos e a esposa se torna uma mola que impulsiona o protagonista a superar os maus tratos.

Passando por várias fazendas e seus modos de produzir e utilizar a mão-de-obra existente, a leitura vale pelas minúcias do cotidiano escravo, ressaltando suas amarguras e os pensamentos que pairavam sobre a mente dos participantes daquele sistema.

Embora não seja de uma leitura rápida, o texto do autor vale ser lido tanto pelo ponto de vista histórico, na moldagem do painel social do país na época, como pelo ponto de vista pessoal na qualidade do tom confessional que permeia o livro na densidade emocional dos relatos.

Título: 12 anos de escravidão

Autor: Solomon Northup
Editora: Penguin / Companhia das letras
Páginas: 273



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Bem-vindo, leitor internauta!

Muitos blogs já foram criados com esse objetivo: fazer resenhas de livros, e só. Quando tivemos a ideia de colocar um no ar, questões nos intrigaram sobre a resenha. O que colocar? Como fazer? e, o mais problemático, sobre quais livros?

Em tempos de internet, a comunicação se tornou (gloriosamente) mais intensa. São leitores ao redor do mundo que dividem suas experiências com livros dos mais variados tipos. Clássicos, bestsellers, poesia, crônicas e uma infinidade de gêneros literários impossível de citar.

Enfim, o que queremos com este blog é, mais uma vez, compartilhar nossos hábitos de leitura, nossas formas de ler o texto e suas possibilidades de sentido. Evidentemente que o gosto pessoal pauta a escolha dos livros, uma vez que esses hábitos já são, por si só, uma escolha muito subjetiva.

Queremos construir textos que sejam significativos na apresentação de livros em seu universo variado, incitando a reflexão e ajustando um espaço de interlocução na esfera literária.

Podemos ter um diálogo tanto sobre os livros mais vendidos do mês, como os seus livros preferidos da vida. O que queremos mesmo é compartilhar, como dissemos, experiências com o texto, com o estilo do autor, relatando nossos gostos, preferências, qualidades e (por que não?) defeitos.

Ainda propomos textos que realizem desdobramentos sobre o livro, como filmes, séries de TV entre outras atividades derivadas do texto literário. É um trabalho meticuloso de escrita, quase um diário de leituras no sentido extremo da palavra. Afinal, que série de TV não usa a fórmula do suspense já conhecida de livros policiais?

Boas-vindas a você leitor visitante (assíduo, nós esperamos!).

Boa leitura,