sábado, 10 de maio de 2014

Resenha - 12 anos de escravidão


Mais do que uma confissão em lágrimas por um narrador estratégico, a narrativa em primeira pessoa de Solomon Northup nos estremece quando relata a violência do tráfico de escravos norte-americano.

Se os abusos cometidos pela escravidão já deixaram marcas na História, imaginem o que não aconteceria com um escravo traficado ilegalmente?

12 anos de escravidão, de Solomon Northup (Penguin/Companhia das Letras, 2014, 273 p.) retrata todo esse tempo em que o autor trabalhou compulsoriamente. Filho de pai ex-escravo, o protagonista foi enganado por dois sujeitos e acreditou, ingenuamente, que começaria uma brilhante carreira como violoncelista. Ledo engano. Na verdade, foi vendido e colocado à disposição de senhores interessados em financiar o tráfico ilegal de escravos nos Estados Unidos.

A partir disso, todo o enredo marca a sofrida trajetória do narrador-personagem na paisagem norte-americana. Apesar de se valer de uma linguagem um tanto densa na descrição minuciosa dos hábitos e costumes, como o funcionamento da lavoura de cana-de-açúcar e milho, o romance toca em uma questão profunda sobre o comportamento humano: o desconhecimento.

Mais do que proibir o direito à liberdade dos escravos e, em especial, do protagonista, o desconhecimento do futuro e a probabilidade remota de uma fuga bem sucedida para rever os filhos e a esposa se torna uma mola que impulsiona o protagonista a superar os maus tratos.

Passando por várias fazendas e seus modos de produzir e utilizar a mão-de-obra existente, a leitura vale pelas minúcias do cotidiano escravo, ressaltando suas amarguras e os pensamentos que pairavam sobre a mente dos participantes daquele sistema.

Embora não seja de uma leitura rápida, o texto do autor vale ser lido tanto pelo ponto de vista histórico, na moldagem do painel social do país na época, como pelo ponto de vista pessoal na qualidade do tom confessional que permeia o livro na densidade emocional dos relatos.

Título: 12 anos de escravidão

Autor: Solomon Northup
Editora: Penguin / Companhia das letras
Páginas: 273



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