quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Resenha dupla - Orgias + Sexo na cabeça

Olá! Sempre quando leio Verissimo, as coisas parecem melhorar para mim. Além de serem textos bem curtinhos, suas crônicas possuem elevada carga de humor. E isso sempre é bom, principalmente nesta nossa vida corrida e chata. Apesar de ser bem complicado, para mim, falar sobre contos e crônicas - o que é cômico, pois é o que gosto de escrever -, tentarei explicar um pouco dos dois últimos livros que li do autor.


Sexo na cabeça (Objetiva, 2002, 148 p.) é uma obra que reúne cerca de 45 crônicas com um dos assuntos que - mesmo depois de 25 anos - ainda fico sem graça perto de meus pais. Ou melhor: fico sem graça quando está passando aquele filme tranquilo, e quando papai e mamãe aparecem na sala, está lá, a maior cena de sexo do cinema, parecendo que eu sou a pervertida da família! haha Veríssimo percorre o tema em questão pelos vários pontos de vista: carnal, espiritual, biológico e até cultural, eu diria. O ponto alto deste livro foi a linguagem bem familiar. É como se sentássemos numa roda de amigos e ali surgisse o assunto Sexo. E Luis, ou Luisinho, dependendo do grau de intimidade da roda de amigos, contaria-nos uma de suas peripécias, ou uma das histórias hilárias que aconteceu com o amigo do pai do colega de serviço do primo dele, sabe?! Ou ainda assumiria o papel do intelectual Kid Cultura, e de seus lábios sairiam as mais fantásticas histórias de como tudo era lá no começo do mundo. Ou ainda, ou ainda, o papel daquele professor supimpa que discorre o tema sexo em sala de aula, filosofando sobre sua origem segundo a visão religiosa, mas com pitadas de Um sábado qualquer.
A minha tese de que o homem descende do macaco, mas a mulher não, é apoiada em evidências científicas, não só no fato de que somos mais feios e cabeludos. (Primatas, p. 47)
Já Orgias (Objetiva, 2005, 132 p.) reúne 34 crônicas que descrevem muito bem como é a vida da raça humana (principalmente dos brasileiros): tão desorganizada e ao mesmo tempo tão prazerosa. Afinal, o que seriam os finais das festas de aniversários infantis, sem aquelas crianças todas perdidas no meio de brigadeiros e balões?! Ou aquele pagode da Djalmira sem as conversas aleatórias, variando a última morte da turma, com a famosa feijoada com costelinha de porco, paio, rabinho de porco... Veríssimo mostra com seu singular humor de sempre, que para ser brasileiro, é quase lei ter uma dose de orgia... Ops! Desorganização!
Ela era o meu tu, eu era o tu dela. Juntos, inauguramos vários verbos que estão em uso até hoje. E eu a chamei de Altimanara, mas Deus vetou e lhe deu outro nome. E quando ela perguntou como era o meu nome, respondi "Mastortônio", mas Deus limpou a garganta, inventando o trovão, e disse que não era não. Ficou Adão e Eva (eu Adão, ela Eva) aos olhos do Senhor e na História oficial mas em segredo, isto pouca gente sabe, nos chamávamos de Titinha e Totonho. E foi ela que disse "Totonho, quero que tu me conheças mais a fundo". E eu: "No sentido bíblico?" E ela: "Existe outro?" E inauguramos outro verbo. (A primeira pessoa, p. 109).
Título: Sexo na cabeça
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Páginas: 148 p.
 
Título: Orgias
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Editora: Objetiva
Páginas: 132 p.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O poder do diálogo [resenha]


Ao pegar um livro, muitas vezes, pode nos parecer clichê nos perguntar o motivo da escolha e sempre nos vem à mente: gostei da capa, ouvi falar muito bem ou o autor é o badalado do momento.

Acredito fortemente que a influência para a escolha de um título seja o convívio com outras pessoas, com os mesmos gostos ou não. É nesse sentido que posso me referir, mesmo não me aprofundando no assunto, à literatura religiosa que vem conquistando estantes ultimamente.

Em uma das conversas de trabalho, eis que surge uma pauta interessante sobre literatura: o tema religioso dentro do texto literário pode ser polêmico? Todos nós sabemos que a literatura, na criação de mundos ficcionais, consegue nos levar a estados não imaginados pela racionalidade humana... e a religião? que papel ela consegue fazer neste percurso?

São essas as questões que me consumiram na leitura de O discípulo da madrugada, de Pe. Fábio de Melo. Confesso que esperava mais do livro, já que tinha lido uma obra do autor e tinha gostado por abordar um tema pelo qual eu estava passando naquele momento...mas isso é assunto para outro post.

O enredo gira em torno de um homem que se tornou amigo de Jesus e que o acompanhou boa parte de sua vida. No entanto, ao acompanhar seus últimos dias, esse protagonista sem nome – propositalmente, creio eu – não assumiu a amizade e o bem que Jesus lhe fez ao longo de suas intermináveis conversas pela madrugada afora.

Até este ponto da história encarei o protagonista com olhos de uma maldade sem fim, entendendo ser ele um dos opositores da doutrina cristã. O que me surpreendeu foi que, conhecendo mais de perto este personagem, constatei que a influência dos outros sobre seus pontos de vista era muito grande. Na verdade era uma pessoa extremamente fragilizada e com alguns nós pessoais ainda por resolver.

Não adiantando os fatos do enredo, em certo ponto da narrativa, o personagem – também narrador – toma uma atitude frente aos acontecimentos de sua vida e relembra, com extrema nostalgia, os diálogos e as conversas que teve com Jesus. Os pontos abordados pelo autor tocam em questões relativas à imagem de Deus na cultura dos homens, o valor e o verdadeiro sentido da fé cristã e da vida de certa forma.

Por esse breve resumo, percebemos a profundidade religiosa e filosófica colocada pelo autor. Não poderia ser diferente, já que o autor tem uma formação eclesiástica que dialoga diretamente com o modo de pensar teológico e cristão, logicamente. O único ponto que gostaria que fosse um pouco mais claro é a linguagem. Existem capítulos – curtos e densos – que se preocupam mais em explicar a base filosófica do desenvolvimento do personagem do que o enredo. É claro que isso pode ser uma característica de estilo do autor e sua formação, já mencionada, serve como um contexto de influência sobre seu modo de escrever.

O que gostaria de enfatizar é a prática do diálogo como fonte de conhecimento inesgotável e que foi, como nos relata o discurso religioso, a forma escolhida por Jesus para lançar as bases da doutrina cristã. Prova cabal de que a literatura está presente na religião são as parábolas. São histórias bem curtas e populares da época que, provenientes de uma cultura oral, conseguiram passar a moral cristã.

Os leitores que se interessam por temas religiosos e que não se apegam a clichês e frases prontas, com certeza irão se reconhecer na construção de um texto, por vezes, simples na construção de personagem e a ambientação da narrativa. Porém, profundo na abordagem de temas que tocam a humanidade na sua mais densa camada de sentido.

Título: O discípulo da madrugada
Autor: Padre Fábio de Melo
Editora: Planeta
Páginas: 182


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Consequências do medo [resenha]



Não é novidade que a vida é feita a partir de um conjunto de pontos de vista. Afinal, o que vivo hoje – neste momento – é uma perspectiva que somente eu tenho sobre o que estou vivendo e sentindo. Com outra pessoa é diferente. Ela está em outro lugar, com outras pessoas, sentindo e vivendo momentos diferentes, mas, por ironia do destino (?), elas podem se encontrar.

Essa foi a premissa de Apaguem as luzes, de Daniel Lucindo. O jovem autor, em seu romance de estreia, consegue formar um quadro sobre a vida de diversas pessoas motivadas por uma viagem aérea de Lisboa até Nice, uma cidade da França. O grande movimento do vôo é justificado pelo interesse de quase todos em assistir ao festival de música de Mônaco no dia seguinte.

Por todo o romance sabemos sobre os fatos que acometeram as pessoas no dia em que estavam prestes a embarcar no vôo com destino à cidade francesa. Assim, conhecemos o ataque de ciúmes da esposa do piloto devido à carona para uma comissária quase desempregada, o encontro de um casal dentro do aeroporto, a complicada vida de uma banda de rock que irá se apresentar no festival, o reencontro de antigos amigos, enfim todo o histórico vivido por essas pessoas que irão se encontrar naquele vôo.

A partir deste esquema o romance ganha contornos de ação e mistério, já que um dos protagonistas – Nuno – é atropelado pelo piloto ao chegar ao aeroporto e, misteriosamente, tem uma visão, uma espécie de aviso de Deus de que aquele vôo não poderá decolar.

Uma característica de estilo do autor é o modo de construção de personagens bastante trabalhado nas situações em que a mudança de trajes e nomes se faz necessária. Não adiantando os fatos finais do enredo, existe um personagem criminoso que consegue se esquivar de sua punição através de um disfarce muito bem planejado e que, por incrível que pareça, também consegue nos enganar.

Esse personagem será o motim para que Nuno e seu amigo Paulo sejam motivados a realizar uma séria perseguição com tom policial que desemboca em um final não muito previsível.

Embora o romance tenha uma estrutura de enredo bastante planejada no que se refere à construção das personagens, sua ordem de entrada na trama e o entrelaçamento de situações nos momentos que antecedem o vôo, a desenvoltura do texto poderia ser um pouco mais acelerada. Acredito que o tom de mistério da narrativa poderia ser colocado de uma forma mais imposta – não clichê – mas ajustada e colocada mais à frente de uma expectativa do leitor. É claro que isso não descaracteriza a arquitetura do texto como um mosaico de vidas que se cruzam e se embatem durante a narrativa.

A ida ao aeroporto, com seus percalços e situações vividas por cada um, consegue perfazer o sentido de uma metáfora para a vida como um conjunto heterogêneo de situações que se imbricam e se caracterizam por elas mesmas.

É nesse sentido que indico este livro àqueles que se interessam por questões que envolvem os disfarces e as diferentes faces que a vida nos propõe a representar, como uma tentativa de intervenção humana dentro do complexo que a vida nos apresenta.

Título: Apaguem as luzes
Autor: Daniel Lucindo
Editora: Chiado
Páginas: 490








Editora Parceira


Resenha - A lenda do cavaleiro sem cabeça


Repito: não gosto de resenhar livros que eu não gostei de ter lido! rs Sim, começo meu post já avisando então: não gostei do livro em questão, mas ainda assim vou tentar explicar o porquê. A lenda do cavaleiro sem cabeça, de Washington Irving (Leya, 2011, 66 p.) é um conto publicado em 1820. Conta a história do professor Ichabod Crane, que gostava muito de histórias de terror, e ao mesmo tempo, ficava muito impressionado com elas. Era considerado meio maluquinho pelos seus alunos, e seu maior prazer era comer. O pedagogo começa a prestar atenção em uma linda moça rica da cidade, a Katrina Van Tassel. Porém, a mocinha já tem um pretendente: como de praxe, o bonitão, da vila Sleepy Hollow. Um dia o pai da moça dá uma festa, e Crane é convidado. Porém, coisas muito estranhas acontecem. Agora, sobre o título: há uma lenda na vila de Sleepy Hollow, que conta que um ex-combatente da guerra foi morto e decapitado, e que seu espírito ronda a cidade e região. E a lenda chama-se como?! A lenda do Cavaleiro sem Cabeça ;)

O título original do livro é The legend of Sleepy Hollow e isso justifica o porquê de o livro não dar tantas voltas em torno do Cavaleiro sem Cabeça. Porém, não me dei conta de que o título era este, e li com expectativas de que seria um terror dos grandes, e que tudo iria girar em torno da figura da capa. Na época em que o livro foi lançado, o gênero horror/terror estava começando a entrar na moda. Alguns autores escreviam com maestria, conseguindo deixar seus leitores bem tensos. Porém, não senti isso em Irving. Considerei o humor dele interessante, mas o clima de horror não me convenceu. Outro ponto negativo, foram as descrições. E aviso: são muitas, muitas mesmo. Para quem não gosta de tantas descrições - de coisas irrelevantes, diga-se de passagem -, como eu, não irá aproveitar tão bem esta leitura. Para mim, quando a leitura estava começando a fluir de forma gostosa, acabou a história. Enfim, isso (das descrições serem muitas) é questão de gosto, e no meu caso, expectativa. Não imaginava que a leitura seria tão arrastada para mim. Fiquei sinceramente bem triste por não ter gostado do livro :(


Porém! Existe um desenho animado da Disney. Você pode encontrá-lo neste link. E confesso que gostei muito mais do desenho do que do livro. O que senti ao assistir foi um pouquinho daquela nostálgica sensação de "medinho", que quando eu era criança, sentia ao assistir uma animação de terror. Existe também o filme de mesmo nome, que foi lançado em 1999, com direção de Tim Burton, e tendo como Crane o seu impagável companheiro Johnny Depp. E ainda a série Sleepy Hollow, que estou totalmente maluca para assistir rs

Alguém aí, viu alguma das adaptações? Leu o livro? O que achou? :)

Aqui eu faço uma resenha em vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=z9kQreF1biE

Título: A lenda do cavaleiro sem cabeça
Autor: Washington Irving
Editora: Leya (selo Barba Negra)
Páginas: 66 p.