Ao pegar um livro, muitas vezes, pode nos parecer clichê nos perguntar o motivo da escolha e sempre nos vem à mente: gostei da capa, ouvi falar muito bem ou o autor é o badalado do momento.
Acredito
fortemente que a influência para a escolha de um título seja o
convívio com outras pessoas, com os mesmos gostos ou não. É nesse
sentido que posso me referir, mesmo não me aprofundando no assunto,
à literatura religiosa que vem conquistando estantes ultimamente.
Em
uma das conversas de trabalho, eis que surge uma pauta interessante
sobre literatura: o tema religioso dentro do texto literário pode
ser polêmico? Todos nós sabemos que a literatura, na criação de
mundos ficcionais, consegue nos levar a estados não imaginados pela
racionalidade humana... e a religião? que papel ela consegue fazer
neste percurso?
São
essas as questões que me consumiram na leitura de O
discípulo da madrugada,
de Pe. Fábio de Melo. Confesso que esperava mais do livro, já que
tinha lido uma obra do autor e tinha gostado por abordar um tema pelo
qual eu estava passando naquele momento...mas isso é assunto para
outro post.
O
enredo gira em torno de um homem que se tornou amigo de Jesus e que o
acompanhou boa parte de sua vida. No entanto, ao acompanhar seus
últimos dias, esse protagonista sem nome – propositalmente, creio
eu – não assumiu a amizade e o bem que Jesus lhe fez ao longo de
suas intermináveis conversas pela madrugada afora.
Até
este ponto da história encarei o protagonista com olhos de uma
maldade sem fim, entendendo ser ele um dos opositores da doutrina
cristã. O que me surpreendeu foi que, conhecendo mais de perto este
personagem, constatei que a influência dos outros sobre seus pontos
de vista era muito grande. Na verdade era uma pessoa extremamente
fragilizada e com alguns nós pessoais ainda por resolver.
Não
adiantando os fatos do enredo, em certo ponto da narrativa, o
personagem – também narrador – toma uma atitude frente aos
acontecimentos de sua vida e relembra, com extrema nostalgia, os
diálogos e as conversas que teve com Jesus. Os pontos abordados pelo
autor tocam em questões relativas à imagem de Deus na cultura dos
homens, o valor e o verdadeiro sentido da fé cristã e da vida de
certa forma.
Por
esse breve resumo, percebemos a profundidade religiosa e filosófica
colocada pelo autor. Não poderia ser diferente, já que o autor tem
uma formação eclesiástica que dialoga diretamente com o modo de
pensar teológico e cristão, logicamente. O único ponto que
gostaria que fosse um pouco mais claro é a linguagem. Existem
capítulos – curtos e densos – que se preocupam mais em explicar
a base filosófica do desenvolvimento do personagem do que o enredo.
É claro que isso pode ser uma característica de estilo do autor e
sua formação, já mencionada, serve como um contexto de influência
sobre seu modo de escrever.
O
que gostaria de enfatizar é a prática do diálogo como fonte de
conhecimento inesgotável e que foi, como nos relata o discurso
religioso, a forma escolhida por Jesus para lançar as bases da
doutrina cristã. Prova cabal de que a literatura está presente na
religião são as parábolas. São histórias bem curtas e populares
da época que, provenientes de uma cultura oral, conseguiram passar a
moral cristã.
Os
leitores que se interessam por temas religiosos e que não se apegam
a clichês e frases prontas, com certeza irão se reconhecer na
construção de um texto, por vezes, simples na construção de
personagem e a ambientação da narrativa. Porém, profundo na
abordagem de temas que tocam a humanidade na sua mais densa camada de
sentido.
Título:
O
discípulo da madrugada
Autor: Padre Fábio de Melo
Editora:
Planeta
Páginas:
182
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